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Quem somos nós? Precisamos de um Estado forte?

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Culto à ignorância.
Carlos Santiago
Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado.

Quem somos nós? Será que precisamos de um Estado para conduzir nossas vidas? Essas perguntas e suas respostas são desafios para a filosofia política, para a antropologia política, para a história política, para a ciência política e para outras ciências humanas que trabalham o comportamento do homem e suas diversas relações de Poder.

O filósofo Aristóteles (384 a.C. – Atenas, 322 a.C.) caracterizou o homem como sendo um animal político, um ser sociável por natureza, o único entre os animais a possuir raciocínio, a facilidade de comunicação com o semelhante, argumento próprio e uma enorme capacidade para o exercício da política, pois a política acontece na coletividade, uma ação exclusiva da espécie humana. Por isso, o filosófico grego sentenciou: somente besta-fera e Deuses sobrevivem fora da vida coletiva.

Ele ensinou aos peripatéticos que a Cidade-Estado seria a finalidade do homem coletivo e da política, depois da organização familiar, tribal e da vida em aldeia e que todo processo natural de socialização do homem objetiva a ética e a felicidade de todos, um bem comum que deve ser a maior missão da política e do cidadão que habitava na cidade/Polis.

Na filosofia política da modernidade, o inglês Thomas Hobbes (1588 – Malmesbury, Reino Unido- 1679 – National Trust – Hardwick Hall, Reino Unido), na obra O Leviatã (1651), discorda de Aristóteles quando define que o homem não é, por natureza, um animal político, sociável, porque ele não sente prazer na companhia de outros homens, é um ser movido por paixões, por egoísmo e por interesses pessoais, capaz de produzir guerras de todos contra todos, um ganancioso, caracterizando assim o homem, no estado de natureza, como um predador do próprio homem.

O filósofo inglês busca decifrar o homem em duas condições: em estado de natureza e em sociedade civil. No estado de natureza é um ser que tem medo de morrer violentamente, vive oprimido porque não tem segurança, tem vida triste e solitária, não existe liberdade normatizada nem solidariedade, não há lei sobre propriedade privada, as guerras são frequentes e ele está sempre em discórdias, refletidas no valor dado à competição, à desconfiança e a permanente busca de glória.

Então, diante da experiência de viverem instáveis no estado de natureza, de serem racionais, com medo de morrerem, dos interesses de conquistar ou manter suas posses, da necessidade de paz e, como não conseguem sozinhos colocar freios nos seus ímpetos de violência e de ganância, os homens firmam voluntariamente um pacto entre eles e se submetem um terceiro, ao Estado Civil, estabelecendo um contrato social, definindo uma sociedade organizada conduzida por um homem artificial forte, o poderoso Leviatã, com poder coercitivo, possuidor de soberania absoluta, um Estado bem utilitarista, porque convergem os interesses do soberano e dos súditos.

Embora existam duas grandes diferenças entre os escritos políticos de Aristóteles e de Thomás Hobbes sobre a natureza do homem, o surgimento e a finalidade do Estado para vida coletiva, porém há três concepções que aproximam o filósofo grego do pensador inglês: ambos , não partem de um ser divino como origem do Poder Político, do Estado, buscam tão somente as experiências humanas no mundo para dissertar suas teses; eles dão destaques ao mundo sensível, às formas de contatos e de relações entre os homens; demostram que a filosofia pode criar ou indicar modelos de Estado e formas de governo.

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