A vida humana é, também, movida por mentiras. Não importa a idade, o sexo, o tipo de sociedade, o espaço e o tempo, a cultura de produzir falsa realidade existiu, existe e existirá como respostas aos fenômenos sociais e naturais; como uma brincadeira, uma fuga da verdade, um refúgio de dor ou uma estratégia de visibilidade diante dos valores do mercado e como instrumento de maldade.
O ser humano, antes de nascer, já é encantado por mentiras. Se a criança for menina, a vestimenta ideal é a de cor de rosa, pois fica “bem” essa cor para menina; mas, se for menino, a cor azul é “perfeita” para a criança masculina. Isso, de fato, não passa de uma invenção, objetivo tolo de misturar a cor de roupa com gênero!
As crianças são bombardeadas por mentiras: bruxas malvadas, cinderelas lindas e bondosas, os super-heróis que salvam a terra, príncipes lindos encantados, inúmeros desenhos animados com animais que falam e agem como humanos; há um papai Noel que dá presentes a quem é boazinha e tem até coelho branquinho com ovos doces. Tudo isso é, de fato, só invenção.
A chamada adolescência já é uma baita mentira para dizer que o ser humano não é criança nem adulto, para que todas inquietações dos jovens Homo Sapiens sejam tratadas como crises de identidade, mas é, também, o momento fértil para outras falsidades criadas, como a beleza estética padrão, como acreditar em amor perfeito e na ideia de que o jovem é a negação dos valores sociais, quando na verdade, é apenas mais uma faceta de vidas modeladas.
Nem na fase adulta o homem deixa de cultivar mentiras, pelo contrário, há inúmeros profetas e propagadores de divindades inventadas, como a ideia de um Deus que não se vê, nasceu de uma mulher virgem, criou tudo que existe, mas no sétimo dia da criação resolve descansar, ele mora no Céu, lá em cima, lugar expressado como paraíso que ninguém vivo conheceu.
O casamento, um contrato com registro em cartório, é tratado como sinônimo de felicidade e fidelidade, uma bela mentira. O consumo de bens é definidor de caráter. A publicidade é um campo fértil da mentira. Refrigerantes são sinônimos de amor, união familiar; os cigarros são vendidos como símbolos da maturidade, independência e felicidade.
Nem na velhice o homem deixa de cultuar mentiras. A terceira Idade é “vendida” como a melhor idade, não importa a dificuldade de locomoção, as doenças crônicas, a perda de massa muscular e da qualidade da visão, há sempre uma mentira lançada advertindo que a velhice é a melhor idade do ser humano.
A política é um campo privilegiado da mentira. Ela é uma grande invenção humana para que os contrários sejam tolerados ou para que os adversários convivam dentro de regras, mas é também um meio onde governantes são vendidos com embalagens de salvadores da pátria, de pais dos pobres, de casais perfeitos, de pessoas de Deus, de excelentes gestores e atraem milhões de seguidores.
Talvez a mentira seja mais atrativa do que o mundo real. Talvez a vida humana seja uma grande narrativa de mentiras. Mas, sem dúvida, a mentira é poderosa. De tal forma, que fez o Homo Sapiens acreditar que ele é o ser mais importante do planeta.