“Deixo girar a roda do destino”, diz uma canção popular em homenagem ao político Amazonino Mendes. Ele usou muito bem a roda em que o destino o envolveu e foi camaleônico no tempo: de estudante de escola católica a leitor simpático do marxismo; de defensor das privatizações de serviços públicos a criador da Universidade do Estado do Amazonas; de fomentador de novas lideranças políticas a mantenedor de ideia do caciquismo; de correligionário de Collor de Mello a eleitor de Lula da Silva. Assim, o ex-governador foi o maior político e o gestor mais longevo do Amazonas depois da redemocratização do País.
No mundo em que reinava a dicotomia capitalismo x comunismo, Amazonino foi contemporâneo dessas ideias. Estudante de instituições católicas como colégio Dom Bosco e o seminário São José, tornou-se líder estudantil e apreciador das obras de Marx. Durante os anos de chumbo acabou sendo preso.
Com o enfraquecimento da Ditadura e com o início da redemocratização, Amazonino aliou-se ao então candidato ao governo Gilberto Mestrinho. Com a vitória deste, foi escolhido por Mestrinho e aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado para ser prefeito de Manaus.
Nesse tempo, Manaus já sentia os reflexos migratórios impulsionados pelo modelo Zona Franca. Crescimento desordenado e surgimento de novos bairros. Em âmbito nacional, governantes populistas venciam eleições, com diálogos diretos com o povo e obras com apelos populares. Amazonino foi a marca desse momento, impulsionado também pelo populismo de Mestrinho.
Como governador do Amazonas, seus atos de administração e acordos políticos refletiam o momento político do Brasil e do mundo. Foi defensor do modelo zona franca, mas também colocou o interior do Estado na agenda administrativa.
Na fase em que os economistas defendiam uma maior participação do estado na economia e de preocupação com o meio ambiente, ele buscou alternativa econômica, apostando no Terceiro Ciclo Econômico, que não deu certo. A distribuição de motosserras, rabetas e implementos agrícolas, seria duramente criticada por ecologistas nacionais e internacionais.
No período em que a ideia central era um estado mínimo, Amazonino privatizou o serviço de água e de esgoto, o porto de Manaus e o Banco do Estado. No plano político, aliou-se aos governos neoliberais, ideologia dominante na América do Sul e no Brasil.
Quando o modelo neoliberal naufragou, ex-governador seguiu a lógica de um Estado propulsor de desenvolvimento, criou a UEA, como a maior política de desenvolvimento econômico e social do Estado, com raízes em todo o interior para levar educação superior aos professores e qualificação aos jovens das cidades.
Amazonino conduziu ainda uma geração de lideranças políticas para cargos majoritários, como Eduardo Braga, Omar Aziz, Alfredo Nascimento, além de vários outros políticos para o parlamento estadual e federal. Participou ativamente da aprovação Emenda Constitucional da reeleição de presidente, de governadores e de prefeitos do Brasil.
Ele não era um santo, mas foi querido pelo povo; criticado pela sua forma de fazer política, mas sempre respeitou os adversários e reconheceu as derrotas. A vida para Amazonino era um até breve.
A leitura política e social e a facilidade de adaptação ao tempo e à conjuntura, levaram Amazonino a ser um vencedor de eleições e um administrador longevo. Assim como os novos tempos e novas conjunturas políticas e sociais elegeram o atual grupo político que comanda o Amazonas.