Quem somos no universo que se expande permanentemente? Há outras formas de vida no universo? Qual a importância da Terra no cosmo? O que estamos fazendo com nossas vidas? E quem pode nos salvar de nós mesmos? Essas e outras perguntas foram reflexões do astrofísico e filósofo americano Carl Sagan diante da fotografia do planeta Terra que foi tirada a uma distância de cerca de 6 bilhões de quilômetros, por uma sonda espacial.
Em fevereiro de 1990, a sonda espacial Voyager 1, depois de anos colhendo informações sobre Júpiter e Saturno, tirou uma fotografia icônica da Terra que mudou o modo de pensar a Terra e até o universo, a pedido de Carl Sagan (1934-1996), que era um dos maiores astrofísico da época e o maior divulgador das experiências científicas espaciais.
Olhando a imagem distante da Terra, um minúsculo pontinho na imensidão do universo, Carl Sagan nos faz pensar sobre os nossos destinos, os nossos comportamentos, as nossas ganâncias e na nossa dificuldade de entender a importância de preservar o nosso planeta e viver em paz e em harmonia. Ele escreveu essa bela reflexão, Pálido Ponto Azul:
“Olhem de novo esse ponto. É aqui, é a nossa casa, somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um sobre quem você ouviu falar, cada ser humano que já existiu, viveram as suas vidas. O conjunto da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada caçador e coletor, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada professor de ética, cada político corrupto, cada “superestrela”, cada “líder supremo”, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali – em um grão de pó suspenso num raio de sol.
A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, pudessem ser senhores momentâneos de uma fração de um ponto. Pense nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores de um canto deste pixel aos praticamente indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes seus desentendimentos, quão ávidos de matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas posturas, a nossa suposta autoimportância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são desafiadas por este pontinho de luz pálida. O nosso planeta é um grão solitário na imensa escuridão cósmica que nos cerca. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos de ficar por enquanto.
Já foi dito que a astronomia é uma experiência de humildade e criadora de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Para mim, destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o “pálido ponto azul”, o único lar que conhecemos até hoje.”
Porém, nas últimas décadas, as reflexões e os alertas de Carl Sagan foram negados pelos governos e por uma grande parcela da população. Ainda é muito difícil sensibilizar pessoas e governos para a defensa e o cuidado com a Terra. As guerras continuam, as desigualdades organizam a nossa ordem mundial, outros animais são extintos e águas são poluídas. E o Ser Humano continua andando no Planeta com empáfia.